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Pessoa com deficiência visual terá autonomia para chegar ao trabalho 7

Pra cego ver: Renato. Com a bengala levantada como se fosse uma espada e a mão direita aberta e encostada de frente na lateral da cabeça. Brinca fazendo um sinal que os militares fazem de continência em respeito aos seus superiores. Fim

Publicado:30-11-16
Por: Renato Barbato
Colunista: Renato Barbato é jornalista, palestrante, locutor, apresentador no programa “Papo no Balcão”, Arquiteto Urbanista, graduado pela Faculdade Belas Artes-SP e Técnico Eletrotécnico. Enquanto liderança atuou no Grupo de urbanismo da entidade e como diretor na modalidade Técnico (entre 2001 a 2003).  Movimento Cidade Para Todos (Fundador e representante), Vice-coordenador do GT Acessibilidade (em 2011), representante titular do IAB/SP na CPA – Comissão Permanente de Acessibilidade do Município de São Paulo (desde 2011). CADEVI – Centro de apoio ao deficiente visual é associado (desde 2013) e conselheiro (de 2014 a 2017). 
Foto: Edi Sousa Studio Artes
 
Um dos princípios básicos da Constituição Brasileira é o direito de ir e vir, direito esse muitas vezes desrespeitado na maioria das cidades brasileiras devido à má conservação das calçadas.
Cada deficiência tem sua peculiaridade e necessidade de tipos diferentes de adaptações ou adequações, para trafegar pelos passeios públicos sem correr risco de acidentes. Nesse contexto a pessoa com deficiência visual precisa de referências para se deslocar com autonomia, conforto e segurança, distintos das demais pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
O trabalho é outro direito fundamental previsto na nossa Carta Magna. Então fica a questão, como chegar com rapidez e segurança na empresa se a conservação das calçadas não está de acordo com princípios básicos de usabilidade?
Se o cego ou baixa visão levar um tempo maior no seu deslocamento em comparação com os demais funcionários sua produtividade cairá, haverá redução drástica de sua qualidade de vida e o nível de atenção será comprometido, tudo isso devido ao estresse causado pela dificuldade do taducho do cegheta sair de casa e chegar ao serviço.
Consciente dessa dificuldade a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas começou a discutir em 2005 uma norma que determinasse diretrizes para projeto e instalação de piso tátil, após avaliar que o conteúdo da NBR-9050 – Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos não cobria a necessidade das pessoas com deficiência visual.
Depois de 11 anos de discussão foi publicada no mês de junho de 2016 a NBR-16537 - Acessibilidade - Sinalização tátil no piso - Diretrizes para elaboração de projetos e instalação, com a finalidade de dar autonomia de deslocamento ao mal avisado do ceghinho, levando ele para longe das casas com cachorros, dos portões automáticos que fecham na cabeça do taducho ou das jardineiras que destroem sua calça, fazendo ele chegar maltrapilho no posto de trabalho.
Durante a elaboração do texto normativo a coordenadora da norma e arquiteta Eliete Mariani, observava que somente o piso tátil não seria suficiente para dar autonomia plena as pessoas com deficiência visual. Ela levou sua preocupação ao analista de sistemas Jaldomir da Silva Filho, seu amigo de trabalho no Metrô de São Paulo, ambos pesquisadores da USP. Decidiram criar uma tecnologia que possibilite um caminhar com autonomia, conforto e segurança para o público com deficiência visual em ambientes desconhecidos ou sem nenhum referencial.
Trocando experiências se juntaram, começaram a planejar como levar o ceguinho ao trabalho, ao lazer ou a escola. Após meses de bate papo desenvolveram um sistema inédito que guia a pessoa com deficiência visual por qualquer ambiente, aberto ou fechado, o Navgate, sem a necessidade de reconhecimento prévio do caminho a ser percorrido” por um “enxergante” de plantão.
“O piso tátil não fala, com o equipamento eletrônico orientando devemos ter uma otimização do sistema físico”, afirma a arquiteta, pesquisadora e desenvolvedora Eliete Mariani, se referindo ao Navgate, que funcionará muito bem como complemento ao piso tátil, afinal quando existe desvios a pessoa com deficiência visual precisa saber onde dará cada percurso.
O analista de sistemas, pesquisador e desenvolvedor Jaldomir da Silva Filho garante que o produto funcionará muito bem em ambientes que não disponham de piso tátil, como Shopping Center, aeroportos ou estações rodoviárias, “ele indicará o caminho correto que a pessoa com deficiência visual precisa seguir para chegar ao seu destino”. O funcionamento é simples, ele não incorpora nenhum equipamento ao usuário, utilizará um aparelho celular e o fone de ouvido. O celular recebe o sinal transmitido pelo sistema instalado na rota, enviando ao fone de ouvido a descrição em voz sintetizada do percurso disponível para a pessoa com deficiência visual, informando todas as opções disponíveis no entorno.
Outra norma em discussão para orientar com exatidão a pessoa com deficiência visual é a de Mapa Tátil. Ela fará que os ambientes tenham uma maquete instalada na entrada do espaço, o cegueta chega, passa o dedo no mapa, assimila o percurso e sai tranquilo para onde quiser. Segundo Eliete e Silva Filho isso é um mito, “Se no trajeto acontecer algo que tire a pessoa com deficiência visual de seu caminho, a orientação fornecida pelo mapa tátil será toda perdida”, Explicam, “ela não terá mais validade”, afirmam os desenvolvedores. Nesse ponto o Navgate orienta inclusive no caso da pessoa desavisada sair de seu trajeto.
Claro que a eficiência do equipamento não está totalmente comprovada, mas a chance de ser um sucesso é enorme pela forma que foi desenvolvido, os pesquisadores ouviram as pessoas com deficiência visual em suas demandas e não “enxergantes” que falam por elas. “Não adianta os videntes desenvolverem produtos sem ouvir as pessoas com deficiência visual, elas são o usuário final, portanto é quem deve dar a opinião”, declaram.
A tecnologia ainda não tem data definida para seu lançamento no mercado, “estamos buscando investidores ou aceleradores de startup para que possamos finalizar a engenharia e o design do produto”, concluem os pesquisadores e desenvolvedores do sistema Navgate, Eliete e Silva Filho.
Enquanto isso não acontece as pessoas com deficiência visual dependerão de auxílio vez ou outra para seu caminhar autônomo pelas calçadas brasileiras.
 
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