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PORQUE ALGUNS ASSUNTOS NÃO SÃO NOTÍCIA?

Pra Cego Ver Regina é loura, com olhos verdes, usa camisa roxa e esta gesticulando com as mãosPORQUE ALGUNS ASSUNTOS NÃO SÃO NOTÍCIA?

Publicado: 21-08-17
Foto: Edi Sousa e Nalva Lima - Studio Artes
Colunista: Regina Ramalho, fundadora do Notícia Pró Trabalho, jornalista, jurista, cerimonialista e gestora especializada em comunicação, estratégica e construção de imagens. Consultora comportamental, facilitadora organizacional e VP (Vendedora Profissional), título mais recente, mas do qual muito me orgulho, pois ajudou a manter Notícia Pró Trabalho no ar.

#PraCegoVer: Regina é loira, com olhos verdes, usa camisa roxa e está gesticulando com as mãos.

Você deve neste momento estar engrossando o discurso extremamente popular no atual
momento do país: “Porque a mídia é vendida! Etc...”.

Infelizmente! Empresas corruptas e maus profissionais existem aos montes, em todas as áreas. Porém, isso não é ou nunca foi privilégio da ‘Grande Imprensa’, menos ainda das pequenas.

Dito isso! Vamos inverter a pergunta:

Sua empresa, seu trabalho, causa, bandeira, etc... Estão prontos para virar notícia?

Se sua resposta foi: Não! Ou ainda: Não sei! Vamos juntos refletir sobre alguns pontos essenciais para que um assunto, ação ou pessoa virem notícias.

Primeiro ponto:

Para sair na imprensa o conteúdo tem que ser: relevante, os objetivos claros, a informação tem que estar organizada, deve ser embasado em dados e depoimento de quem se beneficie com a ação e ainda exposta por um ‘porta voz’ preparado para transmitir as informações.

Segundo ponto:

Respostas para as perguntas: O quê? Quando? Como? Onde? Por quê? e Quais são as consequências esperadas?

Mesmo feito tudo isso existem alguns temas que ocupam pouco espaço na imprensa. Não por não serem de interesse jornalístico, mas por que são uns verdadeiros ‘vespeiros’, isso é, assuntos polêmicos, sem entendimento científico, doutrinário, ou profissional.

Vou citar alguns deles como exemplo (em outra ocasião falamos de outros campos):

O negro, o egresso, o imigrante, a religião, o transexual, a periferia...

Por que? Esses são temas considerados ‘caldeirões’? Porque além da informação estar muito desorganizada, existem no Brasil, diversas correntes diferentes de pensamento e algumas
muito extremistas.

A desorganização x os radicalismos (sem embasamentos práticos e teóricos) dificultam a ação de muitos jornalistas sérios, competentes e compromissados com as causas sociais.

As pautas não usuais muitas vezes poderiam entrar nos chamados ‘buracos’ das programações diárias em jornalismo, que atualmente por exigir respostas muito rápidas já não se têm o mesmo tempo para apuração e produção de conteúdo, que existia no passado. Por isso, exigindo um material de apoio mais prático e ‘mastigado’.

Portanto, sai na frente às sugestões de pautas que já estão estruturadas, organizadas, com ‘porta voz’. Pois tais, documentos agilizam o processo de apuração e aprovação da pauta e ainda impedem que o jornalista leve um processo de brinde ou tenha sua carreira devastada por não saber qual a terminologia ou abordagem correta a utilizar. Exemplo: Uso favela ou comunidade? O quê diferencia uma da outra? Outro exemplo: Uso egresso ou criminoso? E por aí vai o leque de dúvidas de como tratar o assunto, e que caso tratado de forma errada pode gerar um processo e até mesmo perseguição.

Vou citar um case pessoal de ‘pauta vespeiro’, contando o ‘milagre’, mas sem revelar o ‘santo’.

Estava eu com um cancelamento de pauta na véspera de uma entrevista que aconteceria ao vivo das 8h às 9h no dia seguinte. Uma verdadeira tragédia para quem têm que entrar ao vivo com um entrevistado.

Na hora do cancelamento por coincidência, estava ao lado de um articulista membro destes ‘vespeiro que é a inclusão de pessoas com deficiência’. Obs: segmento no qual atuo já há
muitos anos e pensei: vou falar sobre o perfil deste ‘facilitador de inclusão’. Os articulistas daquele segmento acharam ótimo.

Então pedi os contatos de emergência de dois profissionais do meio da dita atividade profissional que tem o dever de promover a inclusão. Mas as indicações tinham compromisso. Pelo Google achamos o contato de um profissional daquele ramo e convidamos para participar do programa e logo depois da confirmação, dois dos indicados retornaram querendo saber outras informações sobre a entrevista.

Um deles, ao saber da confirmação do outro profissional ficou enrolando e não confirmou a participação no programa. Passado o programa o dito me escreveu dizendo que: “jamais
sentaria na mesma mesa que outro participante”. Informou que ficou espantado da outra indicação ter aceito o convite e também do representante da entidade que representa a
categoria ter entrado em contato por telefone para participar do diálogo.

Quis entender melhor os motivos para não participar. Fiquei pensando: Como é que alguém que prega trabalhar pela inclusão se recusa a sentar em uma mesa para dialogar com alguém que atua ou pensa diferente. Como um produtor pode lidar com pautas que esbarram na intolerância e não permitam o diálogo.

Nestes casos as pautas findam sendo derrubadas. Porque muitos colegas jornalistas já perderam seu trabalho ou foram processados. Mas disso, pouco ou ninguém fala.

Bem, por hora, ficamos por aqui. Mas outro dia voltamos a falar sobre as ‘pautas vespeiros’ e trarei outras dicas sobre como virar notícia.