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INCLUSÃO OU EXCLUSÃO EIS A QUESTÃO? 1 Artigo

Pra Cego Ver: Neivaldo é branco, tem a pele levemente bronzeada, usa cabelos grisalhos e curtos. Na foto veste camisa social de mangas curtas na cor preta e relógio no pulso esquerdo. Esta sorridente e de braços, cruzados. Mercado de trabalho para Deficientes

Publicado: 09/05/2017

Colunista: Neivaldo Zovico é diretor da FNEIS (na Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos em São Paulo- SP). Professor, palestrante, consultor de acessibilidade para surdos e deficientes auditivos. Professor de matemática em escolas bilíngue para surdos. Atuou  na EMEE “Helen Keller”.

Fotos: Edi Sousa

 

Minha vida começou no estudo da Escola para surdos e/ou deficientes auditivos, lá onde estudei e aprendi com professores com formação especial junto com meu irmão que é surdo também.

 

O tempo passou! Quando estudava empolgado fui contar a minha professora que pretendia cursar faculdade e que meu desejo era ensinar e auxiliar na educação de outros surdos.

 

 A professora me respondeu: “Impossível uma pessoa surda se tornar professor!”. Ainda acrescentou: “Para esse fim tem que ter professores especiais”.

 

Naquela época as pessoas não acreditavam no potencial dos surdos, mesmo diversos alunos, conseguindo concluir até o 1º grau. A professora me orientou a ir fazer o curso no SENAI para ser tapeceiro, marceneiro, vidraceiro ou encadernador. Mas o meu sonho e meta era ser professor e ajudar a comunidade surda a também ter acesso à educação formal.

 

Acabando o primário fui estudar em escola regular para cursar a 8º serie, neste período sofri muito com ‘bullyng’ por causa de surdez.

 

Recusei ir para o SENAI pois pretendia concluir o 2º grau e cursar universidade.

 

Durante anos foi difícil! Mas consegui o emprego, comecei a trabalhar como auxiliar de serviços de cópias de xerox e cópia de amoníaco. Nesta empresa consegui emprego como desenhista mecânico.

 

O tempo passou fui promovido como projetista mecânico, durante o trabalho, conseguir ter a grana para pagar a faculdade de matemática e pós-graduação em educação especial de áudio comunicação para deficientes auditivos.

 

Durante 15 anos trabalho como desenhista e projetista mecânico, algumas vezes consegui, me comunicar com engenheiros, mecânicos e funcionários das empresas, como tem que ser. Mas com outros tive dificuldade, por não me respeitarem e insistirem com ‘zombarias’ e brincadeira com o fato de eu ser uma pessoa surda.

 

A Lei de Cotas, nem LBI (Lei Brasileira de Inclusão), ainda não existiam. A maior parte das pessoas não tinha ou não buscava ter informação sobre inclusão e sobre as potencialidades das pessoas com deficiência.

 

Também trabalhei em uma empresa de revenda e fabricação de Terminais de Telefone para Surdos “tipo TTS”. Lá, junto com engenheiros e outros colegas de trabalho desenvolvemos um projeto sobre TTS. Nesta empresa pela primeira vez me senti respeitado e me comunicava bem com todos, pois a empresa tinha conhecimento e respeito com os surdos ou deficientes auditivos.

 

Hoje consegui ultrapassar e vencer muitas barreiras, mesmo aquelas que minha professora havia dito que não conseguiria. Trabalhando como professor de Matemática e professor de Libras (Língua Brasileira de Sinais).

 

Na minha vida toda fui convivendo com a exclusão e inclusão dependendo dos lugares e empresas que trabalhei. Atualmente, dedico minha vida para que as pessoas e empresa respeitem a LBI, os surdos e/ou deficientes auditivos. Por isso, resolvi escrever essa coluna (mensalmente) para compartilhar com a comunidade e também com os ouvintes interessados em promover a inclusão, experiências, agendas da FENEIS e informações para aumentar as oportunidades de trabalho e melhorar as condições nos setores de educação e no mercado de trabalho. 


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