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Profissão: Dança e transformando o mundo

 Descrição de Imagem: Carla Ramalho, professora de educação física e dançarina, veste uma blusa rosa e uma calça preta, esta com os cabelos soltos e posa para foto. Fim da descrição de imagem
A professora de Educação Física e dançarina Carla Ramalho, apresentava em uma só pessoa, todos os indicativos de fatores sociais para não dar certo na vida, mas Carla quebrando todos os paradigmas existentes construiu e continua construindo uma história de empreendedorismo e sucesso de deixar muitos PHDs ‘a ver navios’ (confira).
 
 
Publicado: 18/08/15
Texto: Regina Ramalho
Foto: Edi Sousa Studio Artes.
 
A mãe de Carla aos 9 anos fugiu de casa para morar com o seu pai. Carla tem 11 irmãos, seu pai foi embora e Carla e os irmãos passaram a ser criados, por um padastro.
Aos 10 anos de idade, mesmo contra a vontade do padastro, Carla começou a trabalhar nas ruas da cidade, primeiro vendendo balas dentro dos ônibus e depois nos faróis.
   Descrição de Imagem: Carla Ramalho, professora de educação física e dançarina, veste uma blusa rosa e uma calça preta, esta com os cabelos soltos e posa para foto. Fim da descrição de imagem
“Era muita gente em casa, eu tinha que ajudar a comprar o básico, o farol era mais cansativo, mas dava mais lucro e não perdia mercadorias, como frequentemente acontecia dentro dos ônibus”, ela conta.
Carla conta que sempre gostou de dançar e sonhava em estudar balé, como suas amigas da rua, mas sua mãe não tinha condições de pagar.
  
“Meu irmão dançava Hip Hop em um centro cultural e começou a me levar para aprender a dançar com ele e foi lá que minha carreira com a dança começou”.
  
Carla relata para a equipe de jornalismo do Pró Trabalhador quais foram suas maiores dificuldades em trabalhar nas ruas.
  
“É um trabalho de muito risco, muita exposição e sem a proteção dos pais, por diversas vezes fui ameaçada por meninas que queriam cortar o meu rosto com gilete, porque me achavam mais bonita do que elas e por isso, vivia fugindo”, diz.
  
Mesmo trabalhando nas ruas, Carla se destacava das demais crianças, por estudar, ter casa e família.
“Na escola as mães não deixavam brincar comigo, pois eu trabalhava na rua, na rua as meninas não me aceitavam por ser diferente, sofria bullying dos dois lados e não tinha amigas”, ressalta.
  
Repetindo a história da mãe Carla se casou jovem:
 
“Com 15 anos fui morar com o meu namorado, porque meu padastro não deixava eu namorar, após quatro anos eu engravidei e logo depois me separei. Com 18 anos comecei a trabalhar como recepcionista em uma escola de dança e tive espaço para apreender mais sobre a dança. Foi então que pensei: necessito fazer disso uma profissão e quero entender mais sobre o corpo assim ingressei na faculdade”.
  
O mundo acadêmico e seus paradigmas:
  
Carla fala sobre as dificuldades de conciliar o trabalho, a família, os estudos e conseguir pagar o curso universitário.
“A mensalidade era alta, estudava de manhã, trabalhava durante o resto de dia, a tarde conciliava com a família e virava a noite estudando. Ganho por aluno, e Deus foi tão bom, que eu entrei na universidade e mais alunos passaram a solicitar minhas aulas”, lembra.
   
“Entrei na escola com 9 anos, faltava muitas vezes para trabalhar, fiz supletivo e entrei na faculdade apenas com três meses de cursinho e foi muito difícil”, declara.
  
Com 22 anos, Carla estudava com colegas de 17 anos, em uma universidade onde as exigências eram muitas e as cobranças também.
  
“Cursava 10 matérias e logo de cara, reprovei em 5 disciplinas, mas estava feliz, pois para uma ‘semi analfabeta’, com uma história de vida tão diferente dos colegas, aquilo já era uma vitória”.
  
Carla acredita que todo professor de dança tinha que ter noções de Educação Física para evitar lesões.
  
“Com a graduação consegui ver meu aluno como um todo, quando ele não conseguia fazer algum movimento, buscava maneiras de auxilia-lo, mas não como fazem por aí: ‘Esse exercício é assim ó’, e sim fazendo uma avaliação mais completa do tipo: Está faltando força? Não entendeu o movimento? Falta condicionamento físico? Etc...”.