Proteção Coletiva pode reduzir o número de ocorrências de acidentes de trabalho por ano
Na reportagem especial desta semana a equipe de jornalismo do Pró Trabalhador ouviu o presidente do Sintesp e quis saber qual o perfil ideal para quem deseja atuar ou contratar um Técnico de Segurança do Trabalho e qual a principal bandeira da entidade na luta para a tentativa na erradicação dos acidentes do trabalho. Segundo o presidente do Sintesp: Investir na Proteção Coletiva é o caminho mais curto para evitar muitas mortes, mutilações e afastamentosnos locais de trabalho, afirma Marquinhos.
Publicado: 27/07/15
Editato:03/08/15
Texto: Regina Ramalho
Foto: Edi Sousa Studio Artes.
Para o presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp), Marcos Antônio A. Ribeiro (Marquinhos), o investimento em Proteção Coletiva, educação e também os cuidados na escolha do perfil da pessoa que será contratado para implantar o programa de segurança são fatores determinantes para a mudança do triste cenário revelado em pesquisa inédita do IBGE.
Segundo números divulgados no IBGE, ocorrem por ano em todo o país 5 milhões de acidentes de trabalho. São 613 mil trabalhadores com sequelas ou algum tipo de incapacidade por causa de acidentes. Cerca de 1,627 milhões deixaram as atividades habituais e 284 mil foram internados.
Pró Trabalhador: Qual deve ser o perfil ideal da pessoa que abraça a carreira de Técnico Segurança do Trabalho?
Marquinhos: O meu interesse por esta profissão começou após participação em uma reunião de CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Após uma seleção interna para recrutamento de um profissional para o setor de Segurança do Trabalho, fui selecionado e logo em seguida fui fazer o curso de TST, na época Supervisor de Segurança do Trabalho, sendo que me formei em 1982 na ABPA. Desde então aprendi e sempre digo que para ser um Técnico de Segurança é necessário gostar de fazer o bem, gostar do ser humano. Mas infelizmente não é isso que ocorre hoje em dia. Pois atualmente muitos passam a atuar nesta área, atraídos pelo piso salarial da categoria (SP), piso este queem muitos casos, profissionais com o nível superior ainda não conquistaram. Nunca podemos generalizar, mas a grande maioria daqueles que se inscrevem para estudar Segurança do Trabalho, o fazem devido a anúncios espalhados por ai com os seguintes dizeres: Comece a fazer o curso Técnico Segurança no Trabalho e passe a ganhar R$ 3 mil reais por mês.
Por isso na minha opinião e no meu entender faço o seguinte comentário: que existem no mercado de trabalho dois perfis deste profissional:
Os Técnicistas = conhecedores somente das normas técnicas, agindo na maioria das vezes com a razão, dando uma de inspetores ou fiscais, esquecendo-se de que o trabalhador é a parte mais frágil do processo produtivo;
E os Técnicos Prevencionistas = profissionais que não deixam de também serem bons conhecedores das normas técnicas, mas antes disto sendo profissionais conscientizadores, possuindo dentro de suas veias o sangueda prevenção, não medindo esforços para salvaguardar a segurança e saude dos trabalhadores, exercendo um papel social dentro da nossa sociedade.
Pró Trabalhador: A que as empresas atribuem os altos índices de acidente de trabalho divulgados na pesquisa do IBGE?
Marquinhos: As empresas tentam muitas das vezes tentam empurrar a culpa dos acidentes para o trabalhador. É o chamado: Ato Inseguro (dizer que o trabalhador é culpado pelo acidente). Quando na verdade a educação do trabalhador nas questões de saúde e segurança são falhas. Não temos em nosso meio, tanto do lado do empregador como do lado do trabalhador uma mentalidade prevencionista, se o trabalhador não utiliza o EPI (Equipamento de proteção individual) é que muita das vezes sequer foi orientado, não foi conscientizado ou não possui o equipamento. Ou ainda por que o ambiente de trabalho não foi projetado para que exista uma condição salubre aos trabalhadores.
Pró Trabalhador: Quais fatores poderiam contribuir para a melhora do perfil dos Técnicos de Segurança existentes no mercado de trabalho?
Marquinhos: Acredito que em primeiro lugar antes de iniciar o curso de Técnico de Segurança no Trabalho, todo aluno deveria realizar um teste de aptidão, verificando se o perfil dela condiz com a atuação deste profissional, e em segundo lugar as entidades que formam estes profissionais deveriam passar por uma fiscalização rotineira da Secretaria de Ensino, verificando a qualidade das escolas e a experiências práticas dos seus professores.
Pró Trabalhador: Quais as consequências para quem não exerce adequadamente a profissão?
Marquinhos: Nós somos uma categoria diferenciada, que poderemos respondemos Civil e Criminalmente pelos atos que cometemos dentro dos locais de trabalho, por isso devemos sempre colocar os nossos conhecimentos prevencionistas a favor dos trabalhadores e do nosso empregador. Mas a grande maioria dos empresários é imediatista e infelizmente não conseguem ver com bons olhos estes profissionais, pois para se ter um bom trabalho em prevenção, o retorno sempre vem a médio e longo prazo.
Pró Trabalhador: No caso da segurança o que mais conta: o comportamento ou o uso do EPI?
Marquinhos: O comportamento, se eu vou construir um prédio, primeiramente deveria elaborar um projeto e incluir ali todas questões de segurança tanto na construção do iméovel bem como no processo produtivo. Mas infelizmente não é isso que acontece. É triste dizer, mas as empresas fazem mega projetos, deixando de incluir as questões de segurança e saúde dos trabalhadores. Desta forma os gastos com certeza serão ainda maiores, pois teremos que readequarmos todo projeto. Por isso, voltamos ao mesmo ponto do início da entrevista. Primeiro se investe em Proteção Coletiva e depois se pensa na implantação de EPI.
Quando falamos em Proteção coletiva, podemos citar uma máquina tão bem protegida em todos os seus aspectos, que mesmo um trabalhador que queira se acidentar, não conseguiria, pois todos os seus pontos de riscos estariam protegidos. É duro chegar ao nosso conhecimento que existem líderes que retiram a proteção coletiva para aumentar a produtividade.
Pró Trabalhador: Como deve acontecer o trabalho de prevenção?
Marquinhos: A primeira coisa é a Educação, mas para isso deve se levar em consideração o ambiente. Exemplo: Eu vou dar uma palestra em uma obra. Onde vai ser ministrada? Num refeitório. Que condições está este refeitório? Se as condições forem insalubres, ou seja, se o mesmo estiver sujo, frio, barulhento; é claro que não darei a palestra lá! Isto vai fazer mal para mim e para os trabalhadores que forem me ouvir.
Pró Trabalhador: Qual o papel do Técnico de Segurança: fiscalizador ou educador?
Marquinhos: Não somos inspetores de segurança ou fiscalizadores; e sim educadores. Trabalhamos com conscientização dos trabalhadores.
Pró Trabalhador: Quais as categorias com maior número de acidentes?
Marquinhos: Transporte rodoviário e Construção Civil. Com as terceirizações de mão de obras e muitas pessoas trabalhando na informalidade, o negócio acaba ficando ainda mais complicado do que a gente pensa.
Pró Trabalhador: Quais outras ações são importantes para a melhor qualidade de trabalho?
Marquinhos: Não podemos deixar de mencionar que as fiscalizações do Ministério do Trabalho são sem duvida muito importantes, mas também o movimento sindical tem na maioria das vezes uma condição ainda maior na melhoria dos ambientes do trabalho, pois são eles que mantém um contato mais próximo dos trabalhadores e também dos empregadores, podendo em muitos casos utilizar de uma ferramenta importante que são as convenções coletivas de trabalho e também até em última condição a greve dos trabalhadores pela conquista de melhores condições nos ambientes de trabalho. Hoje um dos maiores problemas que temos nos locais de trabalho é sem duvida alguma o Assédio Moral... Por isso, o ideal seria que as empresas também fossem conscientizadas a contratar outros profissionais tais como: Fonoaudiólogos, Psicólogos, Nutricionistas, etc...
O tema Saúde e Segurança do Trabalhador, e a especialização para profissionais que já atuam na área, em breve volta a ser pauta, na agência de notícias do Pró Trabalhador. Continuem acompanhando e enviando sugestões para contato@protrabalhador.com.br