Seminário e debate organizado pelas centrais sindicais Força Sindical e UGT, em conjunto com o Centro de Memória Sindical, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, revela que diferentemente do que afirmam muitos livros, os manifestantes presos e torturados em 64, foram vítimas de um projeto sócio-econômico e político, baseado na repressão e no arrocho salarial da classe trabalhadora.
Publicado: 25/04/14
Texto: Regina Ramalho
Fotos: Edi Sousa
O evento aconteceu, hoje, no auditório Franco Montoro, contou com a presença de estudantes da Etec, Professor Camargo Aranha, além de personalidades públicas, integrantes e dirigentes do movimento sindical.
O deputado estadual e presinte do Sindicato da Industria da Construção Civil de São Paulo abriu o seminário lembrando que muitos sindicalistas inclusive do Sintracon-SP foram caçados, presos e até desapareceram. Tivemos varios companheiros caçados com Ç,como se fossem animais, frisou o deputado.
Ramalho aproveitou também para cumprimentar o organizador e mediador do evento. O secretário da Força Sindical, João Gonçalves (o Juruna) e o trabalho do Centro de
Memória Sindical deixando a seguinte reflexão. Quem desconhece a história, está condenado a revivê-la, afirma.
Participaram da mesa de abertura a vice-presidente da CNTM, Mônica Veloso, o presidente do Centro de Memória Sindical, que lembrou Memória é poder.
Os representantes da UGT, Milton Cavalo e Washington dos Santos Maradona. Também deixaram suas mensagens
Temos que contar nossa história antes que outros o façam diferente da realidade, disse Cavalo.
Esse encontro é um convite para reflexão e uma oportunidade para conversar diretamente com quem sofreu e viveu esse período, propôs Maradona.
Representando o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e da Força Sindical Miguel Torres. A sindicalista que preside o Sindicato da Costureiras Eunice Cabral, questionou a atuação da grande mídia não podemos permitir a ditadura da grande mídia que só mostra o que quer.
As palestras-
Entre os palestrantes e debatedores, pessoas que são a memoria viva, da repressão, violência e torturas promovidas em 64 deram os seus depoimentos.
O ex-diretor do Dieese, Walter Barelli, retratou um pouco de como era a realidade sindical dos tempos de Ditadura. O movimento sindical de hoje é fruto da força interior dos sindicalistas de ontem, que mesmo enfrentando os sindicalistas, pelegos classificados de chapas brancas (isso é ligados aos poderes de governo- Pró Trabalhador), acharam caminhos para preparar o futuro para a direção adaptada e desconstruída do período ditatorial, explica.
O ex-presidente dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, filiado a UGT, Waldir Vicente reforçou as dificuldades levantadas por Barelli e fez um alerta. Existia um estatuto padrão que todos os sindicatos tinham que seguir e as assembleias eram constantemente infiltradas por militares, lembra.
O sindicalista também alertou: Não podemos permitir que hoje a criação de sindicatos seja regulada ou decidida pelo Ministério do Trabalho ou qualquer outro órgão. Temos que ser livres, expõe Vicente.
Outro depoimento comovente foi o do ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Vital Nolasco. Fui preso e torturado no DOI- CODI (Destacamento de Operações de Informações- Centro de Operações de Defesa ligados a inteligência do Exército- Pró Trabalhador), relata e acrescenta Nolasco Contribuímos para a construção da democracia, mas ainda há muito a fazer com a luta pela redução da jornada para 40h, reivindica.
A sindicalista e presidente da Comissão Sindical Internacional, Nair Goulart, trouxe para enriquecer o debate o relato das perseguições que enfrentou, tendo que deixar a cidade do Rio de Janeiro juntamente com sua família levando apenas a roupa do corpo e vir se abrigar em São Paulo em 73.
Contou ainda sobre a facilidade que era encontrar trabalho na cidade e também de como conciliava o trabalho na fábrica com as reuniões da militância.
Entre muitos episódios de perseguição e sofrimento Nair lembrou que ao retornar de um destes encontros para sua residência, foi juntamente com o marido expulsa do prédio onde moravam no centro. Para quem pensa que tanto sofrimento a intimidou a sindicalista fechou sua exposição com a seguinte frase: São essas memórias que nos fortalecem, diz.
Resgate da Memória-
O mediador Juruna, aproveitou e convidou os presentes para levantarem das cadeiras e juntos em homenagem aos mortos pela Ditadura Militar, proclamarem três gritos utilizados para juntar e incentivar o combate a ação das militâncias em 64.
Greve geral! Derruba General.
Vai acabar! A Ditadura Militar
O povo não tem medo. Fora Figueiredo.
Os seminaristas repetiram duas vezes, com os braços erguidos e punhos cerrados, a convite de Juruna três dos gritos de ordem em 64.
Comissão Estadual da Verdade-
Os trabalhos foram retomados por representantes da Comissão Estadual da Verdade, que busca identificar e punir os responsáveis pelas barbaries de 64.
Ivan Seixas, integrante da comissão, falou sobre o levantamento feito com familiares e sobreviventes, presos e perseguidos durante o período ditatorial.
A maior parte é composta por pais de família trabalhadores, vindos da região no Nordeste e Minas, sendo apenas 20% estudantes, brancos e vindos da classe média do Rio de Janeiro, afirma Seixas. Vítimas de um projeto sócio-econômico e político, baseado na repressão e no arrocho salarial da classe trabalhadora, conta.
O próprio Seixas foi uma das muitas vítimas do golpe militar. Ainda criança viu seu pai operário ser torturado e assassinado na sua frente e deixa em nome dele e tantos outros o seu recado. A luta vale apena!, finaliza Seixas.
O seminário assim acabou. Mas o convite para que o debate continue e a história do Brasil seja entendida e como fruto deste entendimento, todos possam desfrutar de um país diferente. Está a disposição do leitor que deseja se aprofundar nas pesquisas sobre o tema no acervo do Centro de Memória Sindical, na Rua do Carmo, 171 - 3º andar - Sé - São Paulo-SP.
Outras informações-
Telefone (11) 3227-4410
contato@memoriasindical.com.br