Diversidade- O sabor do primeiro emprego com registro
Imaginem só a alegria de quem só conquistou o primeiro emprego com registro em carteira, após sofrer trinta anos 30 anos de descriminação? Vamos conhecer a história da operadora de telemarketing, Elizabeth.
Publicado- 26-02-15
Texto- Regina Ramalho
Foto- Edi Sousa e Nalva Lima- Studio Artes
Elizabeth (como prefere ser chamada) trabalhou a vida inteira. Foi diarista, cabelereira, ajudante de pedreiro, entre outras funções. Estudou, fez especializações no ramo de beleza, se formou em técnica de enfermagem. Mas mesmo com toda essa experiência e formação recebeu diverso nãos e portas na cara.
Sou Transexual e mesmo formada em técnica em enfermagem, encontrei varias portas fechadas, lembra Bety. Já estou trabalhando na Atento há três anos e assim que cheguei aqui a recepcionista me entregou uma ficha e perguntou como eu gostaria de ser chamada, conta.
Imagina só a minha reação de espanto, não sabia se ria ou chorava, logo percebi que ali estava em um local diferente e agarrei a oportunidade com vontade de retribuir a empresa todo o acolhimento, revela Bety que faz planos de carreira.
Minha meta é ser Gestora de Operação até 2020, para isso, vou estudar ou Assistência Social ou Administração, planeja.
A equipe do Pró Trabalhador pergunta a Bety se ela já tentou mesmo depois de empregada buscar trabalho em outros setores e se o setor de Call Center é mesmo inclusivo.
Bety explicou: Como o horário é flexível já procurei sim, em outros setores e também em outras empresas de Call Center, mas o preconceito ainda é grande, mesmo neste ramo, revela.
A diretora de recursos humanos, da Atento, Majo Martinez Campos, conversou com o Pró Trabalhador e explicou todo o trabalho voltado para a diversidade no geral que vem fazendo a Atento ganhar vários prémios.
Foi exatamente cobrindo um destes prêmios que o Pró Trabalhador ficou sabendo do trabalho da empresa neste campo (Confira a matéria sobre a premiação do Selo Paulista da Diversidade em dezembro, 2014, promovido pelo governo do Estado de São Paulo).
Na Atento como trabalhamos com gente e no atendimento de outros seres humanos que estão em busca de soluções para suas reclamações ou informações, a diferença está no capital humano, conta Majo (como prefere ser chamada a executiva).
Entre as muitas medidas inovadoras implantadas, chamou a atenção de nossa equipe, em especial as seguintes:
A opção de ter no crachá de acesso aos estabelecimentos do grupo o nome que a pessoa preferir.
Chamamos de Crachá Social. Eu, por exemplo, não gosto do meu nome e prefiro ser chamada de Majo, explica a gestora.
Não existem banheiros que segregam ou separam as pessoas, cada um usa o que se sentir mais confortável, pois os toalhetes são unissex.
A inovação mais gritante, digna de destaque para os leitores do Pró Trabalhador e exemplo para diversas empresas seguirem é o Plano de Saúde.
A adesão leva em conta não só laços sanguíneos ou civis, como de costume na maior parte das organizações, mas as relações Sócias Afetivas, explica Majo.
A empresa foi escolhida entre muitas outras consultadas para ilustra está reportagem especial do Pró Trabalhador, pelo fato de algumas até admitirem trabalhadores GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Mas na hora de revelar ao grande público preferiram também fechar a porta na cara da nossa equipe de reportagem.
Após a entrevista com a Atento, a equipe do Pró Trabalhador, foi procurar a Superintendência Regional do Trabalho de São Paulo, para levantar números e saber onde os trabalhadores que sofrem assédio ou discriminação neste campo podem buscar informação e auxílio.
O coordenador da Comissão de Igualdades SRTE/SP, Jaudenir (Jal) da Silva Costa, servidor público há mais de 25 anos e atuante no combate a discriminação foi quem recebeu nossa equipe.
89% das reclamações recebidas no Núcleo de Igualdade são por alguma espécie de assédio moral no trabalho, revela Jal. O coordenador explicou a nossa equipe que a superintendência atua em duas frentes.
Um dos principais problemas é a falta de informação sobre como promover o respeito à diversidade nos ambientes de trabalho, por isso atuamos em duas frentes: de um lado orientamos as empresas que ainda tem muitas dúvidas e do outro os profissionais que nos procuram, explica Jal.
Questionado sobre a questão dos banheiros Jal comenta: A discussão sobre a implantação dos banheiros unissex são pauta constante em muitos dos nossos encontros, afirma.
Outro ponto também é o respeito pelo nome social, aqui no Núcleo colocamos um campo na ficha para as pessoas colocarem a forma com são conhecidas e preferem ser chamadas, diz Jal. Isso é respeito, reforça o coordenador.
O coordenador explicou também aos nossos leitores, que nos casos mais graves como demissões e ou discriminação. As empresas são muitas vezes são chamadas para participar de audiências e são orientadas a readmitir o profissional.
Em outros casos auxiliamos com informação que podem contribuir para a mudança deste cenário, explica.
Antes de terminar nossa entrevista Jal pontua ainda que: promover a inclusão e respeitar a dignidade humana é dever de todo empregador.
Cuidado com o discurso: Só eu te recebo ou Ninguém mais te quer, pois inclusão e respeito aos direitos Constitucionais são obrigação e não podem ser mais uma arma de constrangimento ou menosprezo pelo profissional, alerta Jal.
Nota do Pró Trabalhador- O combate às desigualdades ainda tem um longo caminho pela frente, por isso cabe a cada um de nós fazer a sua parte. Caso tenha experiência positiva que também possam servir de exemplo e estímulos para outras empresas e instituições, mande sua sugestão de pauta para:
contato@protrabalhador.com.br
Outras informações-
Comissão de Igualdade de Oportunidades de Gênero, de Raça e Etnia, de Pessoas com Deficiência e de Combate á Discriminação-