A insustentável situação da Previdência
Publicado: 30/06/16
Artigo enviado por: Marcos Cintra
A reforma da Previdência será um dos temas que forçosamente o Brasil terá que discutir. O governo de Michel Temer deve apresentar propostas nesse sentido e algumas serão impopulares, mas necessárias para o país. Um dos pontos fundamentais será o estabelecimento de idade mínima para a aposentadoria.
A reforma previdenciária no Brasil vem sendo discutida há anos sob a perspectiva de sua sustentabilidade. Vários estudos vêm mostrando que o sistema brasileiro contém diversas características que o tornam insustentável ao longo dos anos.
A empresa alemã Allianz examina sistematicamente os elementos relevantes dos sistemas de pensão em vários países e em recente relatório o Brasil aparece em uma posição extremamente desconfortável. O estudo 2014 Pension Sustainability Index analisa 50 países considerando diversos parâmetros de natureza demográfica, previdenciária e financeira visando elaborar um ranking para representar a capacidade de equilíbrio de longo prazo das regras da previdência em cada um deles. A sustentabilidade da previdência brasileira só não está mais comprometida que a da Tailândia.
Em outro levantamento da consultoria australiana Mercer, intitulado Melbourne Mercer Global Pension Index, a situação brasileira também não difere em termos de capacidade de sustentabilidade previdenciária. A entidade avalia 25 países e o Brasil aparece na terceira pior posição, atrás de Austrália e Áustria.
No estudo da Allianz o desequilíbrio previdenciário brasileiro está associado ao processo de envelhecimento da população combinada com regras que permitem aposentadorias precoces. A Mercer também aponta a questão da idade mínima como um dos problemas do país.
A fragilidade do sistema previdenciário brasileiro foi retratada também pelo consultor Pedro Fernando Nery do Núcleo de Estudos Pesquisas da Consultoria Legislativa do Senado Federal no Texto para Discussão 190 Idade Mínima: perguntas e respostas. Segundo o autor o desenho da Previdência aliado à transição demográfica apresenta uma tendência estrutural de crescimento de despesas. Cabe citar que nesse relatório Nery chama a atenção para o efeito dessa situação que é a pressão sobre a já elevada carga tributária brasileira e a redução dos desembolsos em investimentos públicos e dos gastos com políticas públicas necessárias para reduzir as desigualdades sociais. O consultor conclui que no limite a Previdência teria dificuldade em arcar com seus compromissos perante os beneficiários e ter de fazer reformas bruscas.
A questão previdenciária envolve muitos interesses e a população sabe de sua importância. Pesquisa recente do Ibope aponta que 75% das pessoas aceitam uma reforma que garanta a sustentabilidade do regime e 65% concordam em rever a questão da idade mínima.
Tudo leva a crer que mudanças importantes virão e o pior dos mundos seria continuar adiando essa reforma, o que levaria ao comprometimento da situação não só para quem já está aposentado, mas também para aqueles que mais à frente vão se retirar do mercado de trabalho.
Outras informações:
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Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
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