Indústria 4.0 artigo 15
Publicado: 23-12-16
Colunista: Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular da Fundação Getulio Vargas. É autor do projeto do Imposto Único. É presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
Fotos: Edi Sousa e Nalva Lima Studio Artes
Pra Cego Ver: Professor Marcos Cintra, branco, usa os cabelos grisalhos, camisa e gravata clara e esta enquadrado na foto em close.
A inovação é o elo de promoção da eficiência do processo produtivo. É uma alavanca para o aumento da produtividade. Consiste em um fator que tem a capacidade de agregar valor aos produtos e à empresa. Criar novos produtos ou aperfeiçoá-los, mudar processos de produção e implantar um novo modelo de negócio pode deixar a empresa inovadora em posição de vantagem frente aos seus concorrentes. Permite à firma oferecer empregos de melhor qualidade, ampliar as margens de lucro e ingressar no mercado internacional.
Os benefícios da inovação não se limitam às empresas em termos de maior produtividade e lucratividade. Para os países ela é determinante para o crescimento econômico sustentado e para o bem estar social. O progresso tecnológico torna a economia mais produtiva e eleva o produto por trabalhador, podendo ter efeito positivo sobre a renda do fator trabalho. É um elemento que impacta a distribuição de renda na economia e que tende a melhorar a qualificação da mão de obra em geral.
A inovação é um conceito que deve ser repensado no atual momento da economia brasileira em função da necessidade do país criar condições para retomar o crescimento econômico sustentado. A questão da elevação da produtividade é um ponto crucial a ser equacionado junto com o entendimento de um aspecto fundamental para o desenvolvimento moderno que é a ideia de indústria 4.0, ou quarta revolução industrial. Ela surge na sequência de um processo de 150 anos de história, que teve início com a máquina a vapor e o tear mecânico e que evoluiu para o motor elétrico e a robótica.
O termo indústria 4.0 teve origem na Feira de Hannover em 2011. Trata-se de uma lógica de produção que engloba inovações nos campos da automação, controle e tecnologia da informação a serem aplicados de modo integrado aos processos de manufatura. São mudanças que tendem a tornar as estruturas produtivas mais eficientes e autônomas uma vez que envolvem sistemas manufatureiros totalmente digitalizados. Nesse mundo novo as fábricas se tornarão mais inteligentes, mais produtivas, impactando na produtividade dos demais setores da atividade econômica e na qualidade de vida dos trabalhadores.
A inovação como motor do desenvolvimento econômico e o conceito industrial baseado na digitalização do processo manufatureiro é uma combinação que o Brasil deve assimilar em todos os segmentos. Deve envolver a pequena empresa, a grande indústria, as entidades patronais e de trabalhadores, o meio acadêmico e o poder público.
Cumpre ressaltar que os agentes públicos e privado devem assimilar um aspecto fundamental em relação a esse ponto que é a compreensão de que não basta promover análises focando apenas a vertente financeira dos investimentos em estudos e projetos de inovação. Mais importante é a avaliação do conteúdo tecnológico contido neles. Esse é o diferencial que maximizará o retorno das inversões para o conjunto da sociedade.
Os países de renda elevada correm para marcar posição na nova configuração produtiva mundial regida pela indústria digital. O Brasil deve entrar nessa corrida partindo da criação de um amplo projeto voltado à sua inserção no mundo da manufatura avançada. Tal diretriz será determinante para o efetivo posicionamento do país como potencia econômica global.