Ajustes na economia em 2015
Classe média endividada, redução do poder de compra e o risco da necessidade de intervenção estatal, são alguns dos problemas levantados na analise que o professor e economista Marcos Cintra divulgou essa semana, que impendem o desenvolvimento do país (confira o artigo na íntegra).
Artigo enviado por- Marcos Cintra, doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.
Publicado 24/04/14
Fotos- Arquivo pessoal de Cintra
Foi à duras penas que o Brasil conseguiu estabilizar sua economia a partir dos anos 90. O tripé macroeconômico foi determinante nesse processo. O regime de metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário controlou a inflação e evitou a explosão da dívida pública. Essa política econômica foi fundamental para o crescimento econômico médio de 4,5% entre 2004 e 2010, acima da média mundial de 3,9% no mesmo período.
Durante aqueles sete anos de expansão do PIB o desemprego caiu de 12% para 7%, a renda do trabalhador cresceu 20% acima da inflação e o crédito para as pessoas físicas triplicou. Com isso, o consumo das famílias se fortaleceu, sustentando o bom desempenho da atividade econômica.
Nas relações externas as exportações cresceram de US$ 73 bilhões para US$ 202 bilhões por conta do forte aumento dos preços das commodities e o capital estrangeiro entrou fartamente no país. O balanço de pagamentos manteve-se relativamente confortável, contribuindo também para o crescimento da economia.
O atual governo assumiu em 2011 defendendo maior intervenção na economia para acelerar seu crescimento. Achou que o voluntarismo seria mais importante para a expansão do produto do que uma política econômica bem articulada e bem conduzida. Gradualmente deixou de lado o tripé macroeconômico acreditando que o modelo intervencionista manteria a atividade econômica se expandindo de maneira sustentável. Hoje o país paga caro por isso. O crescimento é pífio e a inflação pressiona.
O tripé macroeconômico não é suficiente para gerar crescimento econômico, mas proporciona credibilidade e previsibilidade para os agentes domésticos e estrangeiros. Seu enfraquecimento ocasionou desconfiança e aumentou o risco na economia. O cenário ficou ainda pior por conta do exacerbado intervencionismo estatal, que elevou os gastos públicos em troca de efeitos tímidos na economia.
O atual modelo econômico chegou ao fim. Não dá mais para se sustentar com base no consumo doméstico e ingerência na atividade produtiva. A classe média está endividada e a inflação segue reduzindo seu poder de compra. A atuação errática do poder público na economia inibe investimentos privados, uma vez que a percepção do risco cresceu no meio empresarial.
Ademais, o quadro internacional mudou. Os preços das commodities caíram por conta da desaceleração da atividade econômica na China e a expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos reduz o volume de capital estrangeiro no Brasil.
O governo conduziu muito mal a política econômica e adotou uma estratégia equivocada quando passou a adotar uma política intervencionista. O resultado é uma combinação de crescimento abaixo de 2%, metade da expansão do PIB mundial, e inflação elevada, superior a 6%.
O país não terá mudanças significativas na política econômica neste ano porque haverá eleições. Porém, quem quer que seja o próximo presidente terá a dura missão de corrigir os erros da atual gestão a partir de 2015.
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